O "valor" e os estudos urbanos sob domínio das finanças. Reflexões sobre o Time Value Money (TVM) à luz da crítica da economia política

Isadora Fernandes Borges de Oliveira

Resumen


Nas últimas décadas, algumas transformações no desenvolvimento do capitalismo mundial foram descritas a partir do fenômeno da financeirização, e diversos trabalhos avançaram nas aproximações entre as finanças e a produção do espaço urbano. Seu uso generalizado, contudo, suscitou críticas que argumentavam ser necessário “abrir a caixa preta das finanças”, reivindicando aprofundar os conhecimentos em relação ao que seria de fato essa financeirização e como ela se constitui, buscando entender sua materialidade, e seus imbricamentos no cotidiano. Nesse contexto, alguns estudos urbanos desenvolveram pesquisas associadas à sociologia construtivista, que partem de uma abordagem social do valor, entendido enquanto uma construção inequivocamente flexível. Essa literatura tem se dedicado a compreender os instrumentos e mecanismos utilizados pela engenharia financeira, que se apoia na ideia de que o dinheiro admite um valor no tempo (em inglês, Time Value Money, ou TVM), com o argumento de que essas práticas “calculativas” projetam o futuro, traduzindo-o em transformações materiais que produzem o próprio futuro, sendo, portanto, performativas. Por meio de uma revisão bibliográfica, o objetivo do artigo é discutir esses trabalhos, refletindo sobre suas contribuições à luz da crítica da economia política, buscando compreender o papel da engenharia financeira a partir da teoria do valor. A hipótese aqui discutida é a de que, ao compreender essa engenharia financeira, suas métricas e práticas como atividades que, em vez de criarem valor, impulsionam a elevação dos preços imobiliários –quando combina os cálculos da produção industrial tradicional (a construção) aos cálculos de rentabilidade futura (capitalização)–, é possível situar essas contribuições no movimento do capital, e em seus imbricamentos com as relações entre valor e preço.



DOI: https://doi.org/10.62174/quid16.i21_a408

Referencias


Aalbers, M. B. (2008). The Financialization on of Home and the Mortgage Market Crisis. Compe on and Change, 12(2), 148–166. https://doi.org/10.1179/102452908X289802

Ashton, P., Doussard, M. e Weber, R. (2012). The Financial Engineering of Infrastructure Privatization. Journal of the American Planning Association, 78(3), 300–312. https://doi.org/10.1080/01944363.2012.715540

Balarine, O. F. O. (2004). O uso da análise de investimentos em incorporações imobiliárias. Production, 14(2), 47–57. https://doi.org/10.1590/S0103-65132004000200005

Bardet, F., Coulondre, A. e Shimbo, L. (2020). Financial natives: French real estate developers at work. Competition & Change, 24(3-4), 203–224. https://doi.org/10.1177/1024529420920234

Bertolo, L. (2013). O valor do dinheiro no tempo. São Paulo.

Borges, I. (2019). Articulações entre as formas de produção do espaço no habitat popular latino-americano: custos de produção e preço da terra na produção doméstica e de mercado. Anais.

Carcanholo, R. (2005). Elementos básicos da teoria marxista do valor. Anais.

Chesnais, F. (Ed.). (2015). A finança mundializada. Boitempo.

Christophers, B. (2014). Wild Dragons in the City: Urban Political Economy, Affordable Housing Development and the Performative World-making of Economic Models. International Journal of Urban and Regional Research, 38(1), 79–97. https://doi.org/10.1111/1468-2427.12037

Christophers, B. (2015a). From Financialization to Finance: For «de-Financialization». Dialogues in Human Geography, 5(2), 229–232. https://doi.org/10.1177/2043820615588154

Christophers, B. (2015b). The Limits to Financialization. Dialogues in Human Geography, 5(2), 183–200. https://doi.org/10.1177/2043820615588153

Crosby, N. e Henneberry, J. C. (2016). Financialisation, the Valuation of Investment Property and the Urban Built Environment in the UK. Urban Studies, 53(7), 1424–1441. https://doi.org/10.1177/0042098015583229

Dias Carcanholo, M. (2017). Dependencia, superexplotación del trabajo y crisis. Una interpretación desde Marx. Maia ediciones.

Dulman, S. (1989). The Development of Discounted Cash Flow Techniques in U.S. Industry. Business History Review, 63(3), 555–587.

Fix, M. (2011). Financeirização e transformações recentes no circuito imobiliário no Brasil [Tesis de Doctorado en Economía Aplicada]. Universidade Estadual de Campinas.

Harvey, D. (1989). From managerialism to entrepreneurialism: the transformation in urban governance in late capitalism. Geografiska Annaler, 71(1), 3–17.

Harvey, D. (2015). Os limites do capital. Boitempo Editorial.

Jaramillo, S. (1982). Las formas de producción del espacio construido en Bogotá. Em E. Pradilla (Ed.), Ensayos sobre el problema de la vivienda en México. Latina UNAM.

Klink, J. e Souza, M. B. (2017). Financeirização: conceitos, experiências e a relevância para o campo do planejamento urbano brasileiro. Cadernos Metrópole, 19, 379–406. https://doi.org/10.1590/2236-9996.2017-3902

Lapavitsas, C. (2013). The financialization of capitalism: «Profiting without producing». City: Analysis of Urban Trends, Culture, Theory, Policy, Action, 17(6), 792–805. https://doi.org/10.1080/13604813.2013.853865

Lefebvre, H. (1972). La revolución urbana. Alianza Editorial.

Lefebvre, H. (1999). A revolução urbana (S. Martins, Trad.). Editora UFMG.

Lima Jr., J. da R. (2015). Investimentos em empreendimentos imobiliários para venda: risco dos investimentos em real estate.

Marx, K. (2013). O capital: crítica da economia política. Livro I – O processo de produção do capital. Boitempo.

Marx, K. (2014). O capital: crítica da economia política. Livro II – O processo de circulação do capital. Boitempo.

Marx, K. (2017). O capital: crítica da economia política. Livro III – O processo global de produção capitalista. Boitempo.

Mazzucato, M. (2020). O Valor de tudo: Produção e apropriação na economia global.

McAllister, P. (2017). The calculative turn in land value capture: Lessons from the english planning system. Land Use Policy, 63, 122–129. https://doi.org/10.1016/j.landusepol.2017.01.002

Orléan, A. (2014). The empire of value: a new foundation for economics. Te MIT Press.

Paulani, L. M. (2009). A crise do regime de acumulação com dominância da valorização financeira e a situação do Brasil. Estudos Avançados, 23(66), 25–39. https://doi.org/10.1590/S0103-40142009000200003

Paulani, L. M. (2012). A inserção da economia brasileira no cenário mundial: uma reflexão sobre a situação atual à luz da história. Boletim de Economia e Política Internacional, 10.

Pereira, A. (1990). Custo de oportunidade: conceitos e contabilização. Caderno de Estudos, 2, 1–22. https://doi.org/10.1590/S1413-92511990000100002

Pereira, P. C. X. (1988). Espaço, Técnica e Construção: o desenvolvimento das técnicas construtivas e a urbanização do morar em São Paulo. Nobel.

Pereira, P. C. X. (2017). Preço e valor na financeirização da produção do espaço. Em A. Ferreira, J. Rua, & R. C. de Mattos (Eds.), O espaço e a metropolização: cotidiano e ação. Consequência Editora.

Pereira, P. C. X. e Petrella, G. (2018). Introdução: imediato, global e total na produção do espaço. Em P. C. X. Pereira (Ed.), Imediato, global e total na produção do espaço: a financeirização da cidade de São Paulo no século XXI. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo.

Pryke, M. e Allen, J. (2019). Financialising urban water infrastructure: Extracting local value, distributing value globally. Urban Studies, 56(7), 1326–1346. https://doi.org/10.1177/0042098017742288

Robin, E. (2018). Performing Real Estate Value(s): Real Estate Developers, Systems of Expertise and the Production of Space. Geoforum: Journal of Physical, Human, and Regional Geosciences, 205–215. https://doi.org/10.1016/j.geoforum.2018.05.006

Rolnik, R. (2015). Guerra dos lugares: a colonização da terra e da moradia na era das finanças. Boitempo.

Royer, L. de O. (2009). Financeirização da Política Habitacional: limites e perspectivas [Tesis de Doctorado en Arquitectura y Urbanismo]. Universidad de Sao Paulo.

Rufino, B. (2012). A incorporação da metrópole: centralização do capital no imobiliário e nova produção do espaço em Fortaleza [Tesis de Doctorado en Arquitectura y Urbanismo]. Universidad de Sao Paulo.

Rufino, B. (2017). Financeirização do Imobiliário e transformações na produção do espaço. Em A. Ferrara, J. Rua, & R. C. de Mattos (Eds.), O espaço e a metropolização: cotidiano e ação. Consequência Editora.

Sanfelici, D. (2013). A metrópole sob o ritmo das finanças: implicações socioespaciais da expansão imobiliária no Brasil [Tesis de Doctorado en Geografía Humana]. Universidad de Sao Paulo.

Shimbo, L. (2010). Habitação Social e Habitação de Mercado: a confluência Estados, empresas construtoras e capital financeiro [Tesis de Doctorado en Arquitectura y Urbanismo]. Universidad de Sao Paulo.

Shimbo, L., Bardet, F. e Baravelli, J. (2022). The financialisation of housing by numbers: Brazilian real estate developers since the lulist era. Housing Studies, 1–21. https://doi.org/10.1080/02673037.2022.2033175

Shimbo, L., Sanfelici, D. e Martinez-Gonzalez, B. (2020). Consultorías inmobiliarias internacionales y racionalidad financiera en la evaluación y gestión inmobiliaria en São Paulo. EURE: Revista Latinoamericana de Estudios Urbano Regionales, 47, 221–242. https://doi.org/10.7764/EURE.47.140.11

Socoloff, I. (2020). Subordinate Financialization and Housing Finance: the Case of Indexed Mortgage Loans’ Coalition in Argentina. Housing Policy Debate, 30(4), 585–605. https://doi.org/10.1080/10511482.2019.1676810

Topalov, C. (1974). Les Promoteurs immobiliers: contribution à l’analyse de la production capitaliste du logement en France. Éditions de l’École des hautes études en sciences sociales.

Vander Zwan, N. (2014). Making Sense of Financialisation. Socio-Economic Review, 12(1), 99–129. https://doi.org/10.1093/ser/mwt020

Weber, R. (2016). Performing property cycles. Journal of Cultural Economy, 9(6), 587–603. https://doi.org/10.1080/17530350.2016.1212085

Weber, R. (2021). Embedding futurity in urban governance: Redevelopment schemes and the time value of money. Environment and Planning A: Economy and Space. https://doi.org/10.1177/0308518X20936686


Enlaces refback

  • No hay ningún enlace refback.



Estadísticas
Visitas al Resumen:74
PDF (Português (Brasil)):95
HTML (Português (Brasil)):72
XML (Português (Brasil)):118




 

Quid16. Revista del Área de Estudios UrbanosISSN: 2250-4060.

Los trabajos publicados en esta revista están bajo licencia Creative Commons Attribution 4.0 International.